Contrate um advogado com quem possa conversar: uma visão sobre o profissional 4.0
As mídias têm falado muito sobre a advocacia 4.0. O termo, emprestado da indústria, em alusão à Quarta Revolução Industrial, diz respeito ao conceito que engloba as primeiras inovações tecnológicas aplicadas ao processo de manufatura. Igualmente, na advocacia, trata-se de um fenômeno que leva em conta o advento das novas tecnologias, inclusive da inteligência artificial, aplicadas no dia a dia do advogado.
Esse movimento vem crescendo exponencialmente, basta checar o radar de law-techs e legaltechs, por meio do site da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L – https://www.ab2l.org.br/radar-lawtechs/): são as empresas de tecnologia que fornecem serviços para o mercado jurídico.
Nesse sentido, as novidades são softwares, aplicativos, sistemas e tantas outras ferramentas que estão sendo criadas para facilitar a atuação do advogado e auxiliar nas tarefas repetitivas e que não precisam necessariamente de processamento exclusivo pelo profissional. Isto é, são atividades que podem ser realizadas por um sistema.
Apesar disso, a pergunta que tem surgido é: como ficam os postos de trabalho antes ocupados por advogados e que estão sendo substituídos pela inteligência artificial?
Como ficarão esses profissionais no mercado? Como será a adaptação desses profissionais nessa nova realidade?
A antiga imagem do advogado tradicional aguardando o cliente para uma reunião em seu escritório transmutou de forma ágil para a imagem do advogado enviando um e-mail ao cliente para atualizá-lo sobre seus casos e, mais rápido ainda, para a imagem do cliente enviando um whatsapp para o advogado questionando sobre o último push, o último andamento.
Assim, percebe-se que o movimento foi veloz, porém nem sempre acompanhado da melhor técnica de comunicação entre os clientes e os advogados.
Isso porque a informação ficou mais perto das partes. Com o uso da internet e de aplicativos dos tribunais, a parte facilmente acessa a informação que está buscando. No entanto, a questão principal revela-se em: como digerir a informação que está ali disponível, para decidir os próximos passos?
Por outro lado, a situação é inevitável: a tecnologia invadiu a advocacia. Há anos que os tribunais e o CNJ (Conselho Nacional da Justiça) têm investido no processo eletrônico e na facilitação dos procedimentos pelo meio digital. O resultado é nítido: economia de tempo. Portanto, resta tempo para focar nas atividades que realmente necessitam de nossa atenção: como atendimento ao cliente, estudo e dedicação a casos complexos.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) inovou ao comunicar à comunidade em 2018 que está desenvolvendo um robô, que já tem até nome: Victor. O robô irá fazer o processamento de informações para identificar temas comuns de repercussão geral, que em regra demoraria 30 minutos para ser feito por uma pessoa, mas que em 5 segundos é resolvido pelo robô.
Vale lembrar que a máquina não julgará, essa atividade continuará humana. O treinamento do robô foca na atuação em camadas de organização dos processos para aumentar a eficiência e velocidade de avaliação judicial.
O STF, em conjunto com a Universidade de Brasília (UnB), é pioneiro nesse projeto para o Judiciário, dando destaque à tecnologia brasileira. O que por si só já é salutar.
Ainda, o tema demonstra-se tão controverso que o órgão representativo da classe advocatícia, a OAB, criou um conselho para estudar os futuros impactos da tecnologia artificial na profissão dos advogados.
Sob o mesmo ponto de vista, vale ressaltar que o advogado 4.0 é aquele que usa a tecnologia a seu favor, economizando seu tempo em atividades repetitivas que podem ser executadas pelo uso da tecnologia.
Feitas essas considerações, questiona-se: quem é o interlocutor dessas informações que estão agora disponíveis na internet?
O cliente. Sem embargo, lembramos que o modelo do consumidor mudou. O cliente consumidor de serviços jurídicos, hoje, está conectado a maior parte do dia no seu smartphone. O cliente busca solução, agilidade no atendimento e resultado.E a modernização, hoje, está ligada a mobilidade, ou seja, a informação tem que estar disponível no smartphone.
O mercado está repleto de empresas que prestam serviços para o mercado jurídico. Alguns softwares, inclusive, já possuem uma área de login para clientes, que podem acessar o sistema do escritório de advocacia e atualizar-se sobre o seu processo, tudo de forma remota, sem que haja necessidade de marcar reunião, e outros processos burocráticos, que nem sempre geram os resultados esperados.
Na Advocacia 4.0, os escritórios e departamentos jurídicos que mais se destacam são aqueles que possuem pessoas altamente capacitadas para pensar estrategicamente nas principais frentes de atuação do negócio e que utilizam a tecnologia para realizar as tarefas repetitivas
À vista disso, concluímos que não temos mais o poder que achávamos que tínhamos, o da informação. O advogado detinha as informações, o acesso à legislação. Agora, no entanto, a informação está disponível para todo mundo na internet.
A dificuldade do operador comum para o operador do direito é a forma de operacionalizar e relacionar os temas. E esse é o trabalho do profissional especializado, que a internet não vai excluir do mercado. Então, robotizar seria o fim da própria advocacia?
Não entendemos dessa maneira. Isso porque o robô responde a um comando geral, genérico. A padronização esconde os detalhes. E isso o robô não consegue contextualizar, pelo menos não ainda.
E aqui cabe a máxima: “cada caso é um caso”. E é esse o trabalho: analisar o teor de informações e a malha de atitudes a serem tomadas que continuará a ser a do advogado. O domínio dessa articulação é do profissional especializado.
Sem dúvida, o advogado 4.0 é o profissional que conseguiu ajustar o seu mindset, conjunto de modelos mentais e crenças, para a advocacia 4.0. Por conseguinte, quem conseguiu ajustar o mindset para a advocacia 4.0 já está no caminho de conquistar o cliente 4.0.
Por fim, percebemos que as habilidades individuais se sobressairão. A oralidade nunca foi tão relevante e um diferencial tão grande para o advogado. A comunicação com o cliente será mais valorizada. A comunicação com objetividade e precisão, dando ênfase ao conteúdo. Encerramos com a sugestão: contrate um advogado com quem possa conversar; sendo essa a inclinação mais peculiar dos dias atuais.
Julia Barbosa
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